Um conselho da Administração

O 'Alguidar Pneumático', que nunca brinca em serviço e raramente troça com coisas sérias, está em condições de afirmar que dois terços dos apelos acima referidos são encomendados pela própria Polícia Judiciária, que teima em não mexer uma palha quando é chamada a intervir. Assim sendo, aqui fica a versão 'AP' da investigação:
Dia 0:
Desapareceu uma bebé do serviço de obstetrícia/ginecologia do Hospital Padre Américo - Vale do Sousa. A PJ tem já várias pistas mas não as pode revelar a ninguém caso contrário deixam de o ser.
José Alberto Marques salta do anonimato directamente para os corações dos portugueses, dizendo: «Entreguem a criança, por favor.» Diversos elementos da PJ esfregam as mãos de contentamento. Pode ser que não tenham de se esforçar tanto quanto o previsto.
Dia 1:
Se ontem a PJ tinha pistas, hoje está já no terreno. Enquanto dois elementos jogam um-contra-um nos matrecos, três dos investigadores prosseguem incessantemente as investigações e aproveitam o intervalo do 'Êxtase' para visionar as cassetes de videovigilância interna. Não são encontradas pistas significativas e lá vai o pobre José Marques prestar mais umas declarações ao país: «Volto a apelar para que entreguem a bebé». Mais do mesmo.
Dia 2:
A Polícia Judiciária nem tira o domingo para descansar e passou o dia a interrogar pais, utentes, funcionários e pessoal médico e a recolher amostras de ADN dos progenitores, além de ter analisado alguns dos dejectos caninos que se encontram distribuídos um pouco por todo o jardim adjacente ao Hospital.
O desfecho das investigações está para breve, mas o melhor é mesmo tentar pressionar a raptora. José Alberto Marques chega-se aos microfones e diz: «Ou a raptora entrega a criança ou então vai ter chatices com a PJ. Pode ter a certeza. Olhe que eles fingem que não fazem nada, analisam poios de cão e tal, mas vão atrás de si e caçam-na.
Senhora raptora, reconsidere. Devolva lá a bebé que é o melhor para todos nós.»
Dia 3:
Hoje, por incrível que pareça, não é necessária a comparência de José Marques perante os microfones porque os investigadores da Polícia Judiciária já chegaram a uma conclusão: procuram uma mulher.
No entanto, foram ainda mais além nas investigações. Esta mulher não é uma mulher qualquer, mas sim uma mulher na casa dos 35/40 anos e que foi vista no Hospital, poucos momentos antes do desaparecimento da bebé. Mais: essa mulher apresentou um comportamento muito suspeito e que lançou diversas suspeitas nos investigadores.
Aparentemente, a PJ está no caminho certo. Como a bebé não conseguiria ainda raptar-se a ela própria, houve necessariamente alguém que a raptou e esse "alguém" já está devidamente caracterizado, após 72 horas de aturada pesquisa. «Viva a PJ! Viva!», ouve-se amiúde num dos corredores.
Dia 4:
É amanhã. Estejam atentos.