Made in Alguidar
À CONVERSA COM...Laureano Figueiredo
Num rigoroso exclusivo mundial, o 'Alguidar Pneumático' logra hoje difundir uma entrevista a Laureano Figueiredo, treinador que orgulhosamente desceu de divisão o Recreativo de Alguidares de Baixo. Nascido na Guiné, dotado de um frondoso bigode, casado há 22 anos, pai de cinco filhos e dono de um pastor-alemão e três periquitos australianos, Figueiredo tem aos 47 anos direito aos seus merecidos "quinze minutos de fama"...
- Boa tarde, professor!
- Boa tarde!
- Antes de mais, é verdade que leva o seu cão a passear todos os domingos antes da missa das 10h?
- Afirmativo. Passeio todos os domingos a essa hora com o meu Farrusco.
- Fantástico!... Professor, porque o tratam por professor? É formado em Educação Física?
- Não, nada disso! Tratam-me por professor porque em tempos fui assistente do prof. Karamba. Quer dizer, não era bem assistente. Distribuía panfletos do consultório dele nos semáforos... Eu, na verdade, toda a vida fui um simples canalizador.
- Caro professor, os seus jogadores disseram que, apesar de não perceber patavina de futebol, o Mister é como se fosse um pai para eles. É verdade?
- É verdade. Os meus jogadores são como se fossem todos meus filhos, até porque são cá da terra. A média de idades da nossa equipa ronda os 24 anos. Ora, como é óbvio, há 24/25 anos eu era um puro sangue lusitano, um garanhão de primeira. Logo, como dormi com quase todas as raparigas cá da vila, é natural que muitos deles se sintam meus filhos com alguma legitimidade...
- (...) Ok. E no que concerne ao Recreativo. O que se passou com a sua equipa?
- Basicamente, passou-se que a minha equipa foi constantemente penalizada pelas arbitragens. Atente-se no nosso último jogo: o primeiro golo do nosso adversário é fruto de um lance claramente irregular; o segundo é marcado por um jogador com uma fita de nylon a prender o cabelo (o que devia ser expressamente proibido); e o marcador do terceiro golo tinha umas cuecas com cerca 70% de polyester. Não me diga que isto acontece por acaso porque eu já não tenho idade para ir em cantigas...
- Mas, mister Laureano, temos aqui a informação que a sua equipa no último jogo perdeu por falta de comparência...
- Ah, pois foi! Pode cortar esta parte da entrevista. Os leitores podem achar que me estou a desculpar sem pretexto algum. Devo ter feito confusão...
- Por falar em confusões, fala-se na vila que uma das causas do insucesso foram os diversos problemas no balneário. O que tem a dizer sobre tudo isto?
- Quais quê?! Isso é completamente falso!! Temos um balneário fantástico: azulejos 'Novagrés', modelo antracite polido; bases de duche da 'Sanitana'; e retretes da 'Indusa'. Tudo alta qualidade!...
Aliás, nós nunca tivemos problemas no balneário. Oh meu amigo, eu sou canalizador! Ainda no outro dia havia um chuveiro mal vedado e uma torneira que tinha perdido a rosca, mas eu pus imediatamente cobro à situação. Que me lembre, o único problema que tivemos foi quando, vai para 15 dias, a caldeira avariou e os jogadores ficaram sem água quente. Tirando isso...
- Mister, eu não falava desse "balneário"...
- Então? Só temos este! Sabe que com os apoios da Câmara é impossível remodelarmos o nosso complexo desportivo nos próximos anos. Até às próximas autárquicas, vamos ter que nos contentar com este balneário...
- (...) Adiante. O futebol está a tornar-se um fenómeno social importante. Como tem visto o futebol da região?
- Olhe, dantes ainda ia ver de carro, mas agora o meu veículo está no garagista de modos que tenho que me deslocar aos diversos recintos desportivos na 'Famel Zundapp' que era do meu falecido tio Armindo... Mas não é sacrifício nenhum.
- (...)
- (...)
- Olhe, recebi agora mesmo uma mensagem da redacção. Tenho que voltar lá para buscar uns documentos. Importa-se?
- Claro que não, homem! Vá lá à sua vida. Eu também tenho que ir ao gabinete do presidente para ele assinar o "prefácio" do meu livro.
- O quê? Também vai lançar um livro? Como os grandes treinadores de futebol?
- Nãaaa. Para assinar o meu livro de cheques. É que aqui a malta recebe ao dia 23, sempre certinho todos os meses...
- Ah! (...)